A impermanência das coisas
Ninguém se surpreende quando o dia termina e dá lugar à noite, que, mais ou menos 12 horas depois, volta para o lugar de onde veio, dando vez ao dia novamente. Tampouco causa espanto o fato de que o calor dá uma trégua e começa a estação chuvosa, marcando o fim do verão e o início do outono. Mais um exemplo: lua nova, crescente, cheia e minguante, com todas as mudanças que isso causa nas marés, nas plantações, nos bichos e nas mulheres. São os ciclos da natureza, vocês dirão. Qual a novidade nisso? Nenhuma...
Se a impermanência é natural e está nos princípios universais da vida que conhecemos, eu me pergunto: porque resistimos tanto ao fim dos nossos ciclos? Por que é tão difícil deixar pra trás o que vivemos para nos aventurar em novas experiências? Sofremos ao mudar de casa, ao deixar um emprego ao qual já estávamos acostumados, ao perder a convivência de um amigo querido. Ficamos devastados com o fim de um amor. Nos apegamos ao que não existe mais. Tomamos tudo por certo e somos ingênuos o suficiente para pensar que seremos sempre felizes num determinado lugar, ou com uma determinada pessoa. Esquecemos a mais básica das regras: tudo muda, as pessoas mudam, NÓS mudamos...
Mas como fazer diferente? Seria esquizofrênico viver achando que tudo é temporário, e que não vale a pena investir energia, tempo, emoção, desejo ou sentimento em nada, por que um dia terá fim. Mas se tivéssemos uma maior consciência da impermanência das coisas, saberíamos aproveitar melhor o que temos, conviveríamos melhor com os nossos, amaríamos mais, procuraríamos ser sempre melhores, e estaríamos mais preparados para encarar o fim dos nossos ciclos, na certeza que novos ciclos viriam, com altos e baixos, com o doce e o amargo, com princípio e fim...
Maria Helena Meyer
Março 2008
10 Comments:
Lelena!!! Gostei muito do que você escreveu! E você nem imagina o quanto as coisas que você disse são importantes pra mim nesse momento! Obrigada pelo presente e continue sempre escrevendo! Happy Easter pra vc!!!! uma beijoca bem grande, Beta
Oi, Lena.
É a dor do ser (pós)moderno, não é? Será que dá pra fingir que não sabemos que pra tudo há um fim? A consciência da morte fez de nós seres mais ou menos espiritualizados? Mais ou menos racionais e objetivos? Mais ou menos realistas? Mais ou menos corajosos? Mais ou menos iguais?
Beijos,
Anamaria
é engraçado como sempre me indentifico lendo seus textos. gostei demais!beijão, tia!
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Amor, tudo que você disse faz todo sentido do mundo, entretanto, como sou um romântico confessado e incorrigível, não quero nem pensar na possibilidade de um dia eu acordar e ter a certeza de que seu cheiro será apenas lembrança em minha vida. Acho que ainda não sou liberto, sei da transitoriedade da vida mas finjo que não é assim, prefiro pensar que tudo ficará bom como é, e um dia, quando não ficar mais como está, quando não estiver do jeito bom que sempre foi, sofrerei, derramarei lágrimas e me conformarei como criança q sempre se cala depois das birras.
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Muito legal seu texto!!! Como disse Vinícius: que seja eterno enquanto dure (e aqui pra nós, não apenas o amor)!
Um grande beijo!
Dai
Minha sábia amiga, felizes de nós que temos a capacidade do discernimento, a coragem de encarar a dor de frente, e a sensatez de continuar acreditando que a vida vale a pena. E como vale! Obrigada por tudo, sempre. Bjssss
Meuri,
Vim me abrigar aqui debaixo!
Seu texto me lembrou um livro que "vi" outro dia: Modernidade Líquida. Os fluidos são leves e estão sempre prontos para mudanças. Sejamos mais fluidos!!!
Goxti demais!
Beijos,
Renatildes
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