A Câmera no Coração
Numa das viagens que fiz à Chapada Diamantina, BA, conheci uma alemã que vinha viajando pelo Brasil já há alguns meses. Percebi que ela não fotografava nada, nem as vistas deslumbrantes das montanhas, rios e vales, nem as pessoas simples da região, muito menos o grupo de turistas alegres e sorridentes. Perguntei se ela tinha perdido sua câmera, ou se tinha sido roubada. Porque essas eram as duas razões que eu considerava possíveis para que alguém não saísse clicando aquela natureza que nos tira o fôlego. Ela me respondeu, com simplicidade: “Deixei minha câmera em casa.” Eu devolvi, curiosa: “Você não tem vontade de registrar o que está vendo?”. E ela: “Eu registro, só que aqui, na minha mente.” E me explicou que achava um desperdício olhar tanta beleza pelo visor de uma máquina. Ela achava que, fotografando, não olhava direito, e depois só se lembrava do que viu através das fotos. Ela preferia gravar tudo na memória, e pra ajudar, registrava num diário o que via e sentia em cada lugar que visitava.
Confesso que não me lembro o nome dela, mas nunca esqueci o que ela me disse. Também confesso que não deixei de fotografá-la, pois não queria me esquecer dela. Mas a verdade é que, depois desse encontro, procurei refrear meu ímpeto de sair fotografando tudo num clicar sem fim. Comecei a olhar com mais cuidado, a tentar imprimir as imagens na minha memória, e carregar essas impressões com os meus sentimentos naquele momento, como se fotografasse com o coração. Mais uma confissão: não deixo de levar a minha câmera e fotografar o que vejo nas minhas viagens, mas pelo menos hoje eu tenho mais consciência do meu estar naquele lugar.
Estou prestes a fazer uma viagem que, tenho certeza, marcará a minha vida. Inspirando-me na alemã que conheci na Chapada, pretendo fotografá-la com o coração. Resolvi registrar com palavras (se soubesse desenhar, também desenharia...) o que verei e sentirei durante esses dias em que estarei visitando outros lugares. Nunca fiz isso antes, não dessa maneira nem com esse propósito. Não sei se vai dar certo, se terei paciência, persistência e disciplina para isso. Mas vou tentar usar a câmera que tenho no coração. Estou bem animada... Desejem-me boa viagem!!!
Salvador, 15 de Outubro de 2009
Labels: férias, fotografia, sentimentos, viagens
1 Comments:
É isso mesmo! O mundo tem ido rápido demais, não sei ao certo pra onde que estamos indo. Está tudo num clic, tudo num pen drive, tudo num blog, tudo num sms, nos 10 Mega pixels das máquinas fotográficas... Essas pequenas manifestações fazem a diferença... Muito lindo o texto!
bj
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