O Turista e o Viajante
Vi numa estação de metrô em Londres uma propaganda de cartão de crédito que dizia: “Be a traveller, not a tourist” (Seja um viajante, não um turista). Achei o máximo... Qual a diferença entre um viajante e um turista? Pra mim, em poucas palavras, a diferença é esta: o turista viaja pra ver. O viajante viaja pra viver.
O turista vai a todos os lugares recomendados no guia de viagens que ele invariavelmente carrega consigo. Tira foto de tudo, compra souvenir típico: fitinhas do Bonfim, miniaturas do Cristo Redentor, da Torre Eiffel, do Big Ben, tudo isso vem na sua bagagem de volta. Prefere andar de taxi a caminhar a pé. Sempre segue as recomendações do recepcionista do hotel, afinal ele está acostumado com turistas. Curte bastante toda a infra-estrutura que as cidades turísticas preparam para ele. E não se arrisca: não quer se perder, não quer comer comida ruim, não quer ver o lado ‘feio’ do lugar.
O viajante também vai aos lugares recomendados: afinal, qual a graça de ir ao Rio pela primeira vez e não ver o Cristo Redentor, ir a Paris e não ver a Torre Eiffel, ir a Nova Iorque e não conhecer a Estátua da Liberdade? O viajante também fotografa, e muito. Como já disse alguém, faz parrrrrrte... Mas o viajante tem uma sede diferente. Ele anseia por saber como aquele lugar que está visitando realmente é. Ele observa as pessoas, analisa como elas vivem, como são, como reagem. Ele tenta decifrar as mensagens escondidas que aquele novo lugar tenta lhe passar. Ele tenta compreender como funciona a cidade, por que as pessoas são como são, por que lhe tratam de determinada maneira. E ele, sempre que pode, sai do circuito previsível. Ele faz descobertas próprias, ele encontra novidades das quais se apropria e passa a chamar de suas.
Qual o mal em ser turista? Nenhum... é uma questão de escolha. Além disso, é preciso dizer que nessa teoria de turista versus viajante, não há status definidos. Existe o viajante no turista, e o turista no viajante, em maior ou menor grau. Há só uma ressalva que faço: sendo 100% turistas, corremos o risco de ver só o superficial. Corremos o risco de levar um monte de foto pra casa, de levar uma lembrancinha pra todo mundo, mas não sermos capazes de lembrar o cheiro da cidade e os rostos das pessoas, simplesmente porque não tivemos tempo de prestar atenção a isso enquanto estávamos sendo turistas. As nossas viagens serão reduzidas a um álbum, com fotos que poderiam ter sido facilmente baixadas da Internet.
Tenho o meu lado turista sim, quem não tem? Mas, a cada vez que viajo, me convenço de que as melhores viagens são aquelas em que nos preocupamos mais em sentir e conhecer do que em ver. Essas são aquelas viagens que nos transformam, que nos tornam pessoas mais ricas e mais sábias.
Helena Meyer
Dezembro de 2009
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