Thursday, March 22, 2007

Receita para uma vida melhor

Parece título de auto ajuda, e na verdade é isso mesmo. Esse texto bem podia estar num dos capítulos desses livros que ensinam às pessoas coisas básicas da vida, e enchem as contas bancárias de seus autores. Sei que algumas pessoas vão torcer o nariz, mas não tenho nada contra os livros de auto-ajuda, assim como não tenho nada contra Harry Potter nem contra revistas em quadrinhos. Eles têm um papel a cumprir, e o fazem muito bem. Já a revista Caras...

Voltando ao título, resolvi dar uma de guru ao me dar conta de como muitas pessoas que nos cercam se sentem infelizes e insatisfeitas com a vida. Seria muita pretensão minha tentar resolver os problemas do mundo com umas receitinhas banais. Não, eu sei que a natureza humana é tão complexa a ponto de existir gente que encontra prazer no sofrimento, e que não foi à toa que Freud, Lacan, Jung e outros sábios dedicaram tanto tempo a estudar a psique e a escrever tratados sobre a personalidade do homem (e da mulher). Mas um pouco de bom-humor e uma visão prática das coisas ajudam, por isso lá vai a minha receita. Vou citar quatro ações simples, mas que talvez não sejam fáceis pra todos.

Ação 1 – Viva a sua vida, e não se importe com a dos outros.

Não sei por que achamos que temos o direito ou dever de dar palpite em tudo (ou quase tudo) que os outros fazem. E isso se acentua se os ‘outros’ são aqueles mais próximos de nós. Pra que mesmo, hein? Qual o problema se a minha filha pintou os cabelos de laranja, se o filho da vizinha tem sete piercings na sobrancelha, se a namorada do meu irmão é gorda e usa mini-saia (e por sinal, ele adora), se meu colega de trabalho ouve pagode, se meu chefe é gay ou se minha melhor amiga está namorando um cara que eu acho que não tem futuro? O que é que eu tenho com isso? Acho que essa mania de querer interferir em tudo vem do desejo de moldarmos o mundo à nossa imagem e semelhança. Um pouco essa coisa de querer ser Deus, sabe? Mas o problema é que as pessoas são diferentes (e ‘ser diferente’ soa como palavrão pra muita gente), o mundo não funciona de acordo com nossos parâmetros, e não há nada, nada mesmo, que possamos fazer a esse respeito. A não ser encher o saco de todo o mundo com nossas opiniões formadas sobre tudo e todos, e nos sentir extremamente infelizes porque as coisas não são do jeito que a gente quer.

Ação 2 – Aprenda a viver com menos

Essa talvez seja a ação mais difícil. Somos bombardeados todos os dias com a idéia de que felicidade equivale a ter coisas: um celular que faz até pizza, aquele carro bacana igual ao da cunhada, um par de sapatos que dói no pé mas é a última moda, um cartão de crédito com limite estratosférico. Isso sem falar nas necessidades absolutamente imprescindíveis que até bem pouco tempo atrás todo mundo vivia sem: internet super-hiper-mega-ultra veloz, TV a cabo com 357 canais, cabelo liso e loiro à custa de algumas centenas de reais todo mês, monitoração via celular 24 horas por dia. Tudo isso custa dinheiro, muito dinheiro. E o que fazemos então? Corremos atrás dele como loucos. Parecemos aqueles cachorros de corrida que saem correndo atrás do coelhinho mecânico sem perceber que nunca vão alcançá-lo. Será que precisamos mesmo disso tudo pra ser felizes? Será que vale a pena tanto sacrifício só pra poder comprar um Ford Eco Sport, quando um Palio Fire poderia nos levar onde queremos ir? Será que as noites perdidas pensando em como cobriremos o cheque especial compensa o feriadão naquele hotel badaladíssimo, aquele do lado da pousadinha simples que não tem metade do charme, mas que tem uma diária bem mais em conta? Claro, São Francisco de Assis viveu há séculos atrás, e todo mundo precisa de um mínimo pra viver com conforto e segurança, mas o que eu penso é que hoje esse mínimo está ficando cada vez mais máximo, e a gente não está se dando conta disso. Sábios são aqueles que conseguem ser felizes levando uma vida mais simples.

Ação 3 – Faça amor com freqüência

As tias virgens de antigamente eram azedas até não poder mais. Criticavam tudo, perseguiam toda forma de alegria, se escondiam atrás dos terços e das novenas e eram um poço de tristeza e amargura. Tudo bem, a solidão deixa qualquer um mal, mas se elas dessem uma trepadinha de vez em quando, levariam a vida com mais leveza. Hoje, a titia solteirona quase não existe mais, mas há muita gente mal amada por aí, e a gente vê muito isso no trânsito. Aqueles que dirigem xingando todo mundo, se irritam com a lentidão do carro da frente, cortam pela direita e pela esquerda e buzinam alucinadamente por qualquer coisa, certamente não são pessoas que estejam com a manutenção em dia. Uma pessoa bem amada vive de bem com a vida, não se estressa por bobagem, tem leveza no corpo e na alma. A receita ideal é: faça muito amor com quem você ama. Se apaixone, se entregue, ame muito, se desligue desse mundo quando estiver com o seu amor. Se você não tem (ainda) um amor, não se desespere. Olhe em volta, observe, se abra. Não idealize um modelo do parceiro perfeito, ele não existe. Contemple a diversidade e não exija o que as pessoas não podem dar. Busque a essência, isso é o que realmente vale. E se mesmo assim, o seu amor de verdade demorar a chegar, saiba escolher os seus eventuais parceiros. Não saia comendo todo mundo, isso lhe deixa vulnerável e pobre de alma, mas também não se esconda atrás de um puritanismo exagerado e hipócrita. Lembre-se que sexo é uma troca imensa de energia, e deve ser bom, se for feito com critério. E não esqueça que, se sexo é bom, com amor ele é infinitamente melhor.

Ação 4 – Tome umas de vez em quando

Não estou fazendo apologia do álcool, e moderação é sempre recomendado, mas tem coisa melhor do que, depois de uma reunião super estressante no trabalho, você sair com seus colegas pra tomar uma cerveja gelada, e aproveitar pra botar pra fora tudo o que você quis dizer àquele consultor metido e não pôde? Ou então convidar seus amigos pra comer uma massa que só você sabe fazer e servir com um bom vinho tinto? Ou depois do jantar, assistir um filminho besta com o seu amor bebendo uma cachacinha especial que vocês compraram naquela última viagem à Chapada? Beber com as pessoas que você ama é um ritual, aproximas as pessoas, consolida sentimentos, lhe torna parte de um grupo. E quando a bebida bate, de leve (que ninguém merece aguentar bêbado fazendo besteira!!), você se solta, dá risada de tudo quanto é bobagem, dança uma noite inteira sem cansar, sente um amor incrível pelas pessoas, vê as tristezas e angústias como imagens distantes, e se sente mais feliz. Mas cuidado! Selecione bem seus companheiros de birita, saiba parar antes de dar vexame, lembre-se do seu fígado (ele lhe diz horrores através da ressaca), e leve grana pro taxi.

Peço desculpas se fui óbvia ou se assumi um tom catequizador. Não é essa minha intenção, mesmo porque ninguém é obrigado a seguir conselho de ninguém... Enfim, ficam aí as minhas idéias, tomara que sirvam pra alguma coisa...

Helena Meyer - 21 de Março de 2007