Sunday, December 20, 2009

Viajar é ginástica mental!


Comunicar-se numa outra língua, entender um novo sistema de transporte, escolher o que comer num menu completamente não familiar, andar por ruas que não conhece, pagar ou receber troco em moedinhas esquisitas, tudo isso deve deixar o cérebro a mil... nossos neurônios devem realizar milhões de sinapses ao mesmo tempo, numa tentativa louca do cérebro de se acostumar com tanta coisa estranha, diferente... É por isso que eu penso que viajar é um excelente exercício pra o cérebro.
Quanto mais estranho o lugar, quanto mais diferente da sua rotina doméstica, mais esperto você tem que ficar, e mais você exercita a sua capacidade de deduzir, de compensar o que não sabe, de tirar conclusões em cima de situações completamente ambíguas. A ambigüidade de uma cultura estrangeira (e não falo só de outro país, pode haver uma cultura ‘estrangeira’ a duas horas de viagem da sua cidade natal...) lhe força a pensar, a abrir sua mente para o diferente, a ampliar sua tolerância ao estranho. E à medida que você se acostuma e se sente mais familiarizado e confortável com tudo, você acrescenta esses novos dados ao seu HD mental e se torna uma pessoa melhor informada e mais preparada para a vida.
É claro que existem pessoas que viajam e buscam reproduzir no outro lugar tudo que têm em casa, talvez com medo de perder as suas referências. Outras nem se arriscam a viajar, não têm vontade, não se estimulam, preferem ficar a vida toda fazendo as mesmas coisas porque é muito mais cômodo. Talvez seja por preguiça de exercitar o cérebro. Mas isso já é outra história...

Helena Meyer
Dezembro 2009

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Saturday, December 19, 2009

O Turista e o Viajante



Vi numa estação de metrô em Londres uma propaganda de cartão de crédito que dizia: “Be a traveller, not a tourist” (Seja um viajante, não um turista). Achei o máximo... Qual a diferença entre um viajante e um turista? Pra mim, em poucas palavras, a diferença é esta: o turista viaja pra ver. O viajante viaja pra viver.
O turista vai a todos os lugares recomendados no guia de viagens que ele invariavelmente carrega consigo. Tira foto de tudo, compra souvenir típico: fitinhas do Bonfim, miniaturas do Cristo Redentor, da Torre Eiffel, do Big Ben, tudo isso vem na sua bagagem de volta. Prefere andar de taxi a caminhar a pé. Sempre segue as recomendações do recepcionista do hotel, afinal ele está acostumado com turistas. Curte bastante toda a infra-estrutura que as cidades turísticas preparam para ele. E não se arrisca: não quer se perder, não quer comer comida ruim, não quer ver o lado ‘feio’ do lugar.
O viajante também vai aos lugares recomendados: afinal, qual a graça de ir ao Rio pela primeira vez e não ver o Cristo Redentor, ir a Paris e não ver a Torre Eiffel, ir a Nova Iorque e não conhecer a Estátua da Liberdade? O viajante também fotografa, e muito. Como já disse alguém, faz parrrrrrte... Mas o viajante tem uma sede diferente. Ele anseia por saber como aquele lugar que está visitando realmente é. Ele observa as pessoas, analisa como elas vivem, como são, como reagem. Ele tenta decifrar as mensagens escondidas que aquele novo lugar tenta lhe passar. Ele tenta compreender como funciona a cidade, por que as pessoas são como são, por que lhe tratam de determinada maneira. E ele, sempre que pode, sai do circuito previsível. Ele faz descobertas próprias, ele encontra novidades das quais se apropria e passa a chamar de suas.
Qual o mal em ser turista? Nenhum... é uma questão de escolha. Além disso, é preciso dizer que nessa teoria de turista versus viajante, não há status definidos. Existe o viajante no turista, e o turista no viajante, em maior ou menor grau. Há só uma ressalva que faço: sendo 100% turistas, corremos o risco de ver só o superficial. Corremos o risco de levar um monte de foto pra casa, de levar uma lembrancinha pra todo mundo, mas não sermos capazes de lembrar o cheiro da cidade e os rostos das pessoas, simplesmente porque não tivemos tempo de prestar atenção a isso enquanto estávamos sendo turistas. As nossas viagens serão reduzidas a um álbum, com fotos que poderiam ter sido facilmente baixadas da Internet.
Tenho o meu lado turista sim, quem não tem? Mas, a cada vez que viajo, me convenço de que as melhores viagens são aquelas em que nos preocupamos mais em sentir e conhecer do que em ver. Essas são aquelas viagens que nos transformam, que nos tornam pessoas mais ricas e mais sábias.

Helena Meyer
Dezembro de 2009

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