A impermanência das coisas
Ninguém se surpreende quando o dia termina e dá lugar à noite, que, mais ou menos 12 horas depois, volta para o lugar de onde veio, dando vez ao dia novamente. Tampouco causa espanto o fato de que o calor dá uma trégua e começa a estação chuvosa, marcando o fim do verão e o início do outono. Mais um exemplo: lua nova, crescente, cheia e minguante, com todas as mudanças que isso causa nas marés, nas plantações, nos bichos e nas mulheres. São os ciclos da natureza, vocês dirão. Qual a novidade nisso? Nenhuma...
Se a impermanência é natural e está nos princípios universais da vida que conhecemos, eu me pergunto: porque resistimos tanto ao fim dos nossos ciclos? Por que é tão difícil deixar pra trás o que vivemos para nos aventurar em novas experiências? Sofremos ao mudar de casa, ao deixar um emprego ao qual já estávamos acostumados, ao perder a convivência de um amigo querido. Ficamos devastados com o fim de um amor. Nos apegamos ao que não existe mais. Tomamos tudo por certo e somos ingênuos o suficiente para pensar que seremos sempre felizes num determinado lugar, ou com uma determinada pessoa. Esquecemos a mais básica das regras: tudo muda, as pessoas mudam, NÓS mudamos...
Mas como fazer diferente? Seria esquizofrênico viver achando que tudo é temporário, e que não vale a pena investir energia, tempo, emoção, desejo ou sentimento em nada, por que um dia terá fim. Mas se tivéssemos uma maior consciência da impermanência das coisas, saberíamos aproveitar melhor o que temos, conviveríamos melhor com os nossos, amaríamos mais, procuraríamos ser sempre melhores, e estaríamos mais preparados para encarar o fim dos nossos ciclos, na certeza que novos ciclos viriam, com altos e baixos, com o doce e o amargo, com princípio e fim...
Maria Helena Meyer
Março 2008